26 de julho de 2012

O ano da mulher peituda


Elas estão por toda a parte. Quando você menos esperar, lá estão elas, vivendo suas vidas, sorrindo seus sorrisos, permitindo-se ser bem mais do que já foram. Alguns podem achar que é bobagem, mas não: 2012 é o ano da mulher peituda.
Eu conheço três pessoas que colocaram silicone esse ano. Sei de pelo menos meia dúzia que deve colocar antes de verão e de mais umas dez que colocariam se pudessem. Pagamentos facilitados, promoções de honorários, cobertura pelo plano de saúde, não importa o motivo, a verdade é que a mulherada quer ficar peituda. Mais do que isso: elas se deram conta de que não precisam passar a vida inteira com um problema que tem solução. Elas decidiram cortar o mal pela raiz, e investiram na sua aparência para melhorar sua auto estima. Acho muito justo. É do perfil feminino arrumar solução para problemas pequenos, ajudar os outros em seus problemas grandes, estar envolvida com toda e qualquer preocupação (mesmo que seja de outra pessoa) que esteja perto dela. Então, se ela gostaria de ter mais peito, e se ela tem grana pra colocar silicone e coragem pra encarar um centro cirúrgico apoio totalmente o investimento que estão fazendo para sentirem-se mais bonitas. A brasileira não quer apenas ser reconhecida pelo samba e pela bunda. A brasileira, agora, também quer ser peituda.
Aí vem o outro lado da história. As outras peitudas. Que (também esse ano) decidiram meter o pé na porta, driblar o preconceito, esquecer dos outros para que pudessem ser felizes de verdade. Falo das peitudas que assumiram uma nova postura, desistiram de antigos amores, e perceberam que um sorriso franco vale mais do que muitos meses ao lado de alguém que você já não ama. As mulheres que, esse ano, passaram a entender que manter alguém em uma relação que já acabou é também uma prova de egoísmo, e que deixar livre a pessoa por quem você tem apreço, mas por quem já não sente tesão, é permitir que a felicidade que já foi dividida com você, seja agora dividida com outra pessoa, que também pode ser feliz ao lado de quem você já amou. As peitudas desse ano terminaram relacionamentos longos e estáveis, curtos e turbulentos, mas todas pelo mesmo motivo: descobriram que é preciso (e muito importante) ser e estar feliz todos os dias, e não de vez em quando. E agindo assim, mostraram a maturidade e o ‘peito’ que é preciso para abrir mão de algo que um dia já foi seu e que logo logo, poderá ser de outra pessoa.
Aí eu me pergunto: é diferente? Quando ouço as pessoas dizendo que hoje em dia todo mundo coloca silicone e que virou moda e que por isso as mulheres já não se satisfazem e não se realizam com o corpo que tem. Que peito não é uma coisa tão importante e fundamental a ponto de as pessoas se submeterem a uma interferência cirúrgica para seguir padrões estéticos que nos são exigidos. Será?
Tem os que falam que a paixão não é algo que você vá sentir para o resto da sua vida e que, se você estiver dividindo os seus dias com alguém que seja agradável segure-o, porque isso já é o suficiente. Insistem em dizer que o príncipe encantado e o cara ideal não existem e que, por isso, você precisa se conformar que assim como os relacionamentos começam, eles também terminam e, dificilmente, você vá querer passar o resto da sua vida ao lado da mesma pessoa. Discordo.
As mulheres peitudas querem ser valorizadas, não pelos peitos, mas pela atitude. Elas investem em si, elas querem ser mais bonitas e atraentes e eu, sinceramente, não vejo nada de errado nisso. Elas terminam relacionamentos estáveis para serem felizes, vou eu discordar? Não, claro que não! Elas investem em si para sentirem-se lindas. É errado? Não, né?
Se o que te incomoda tem solução minha amiga, vá a luta. Seja o final de um relacionamento, a conversa que você precisa ter com seu pai, o ‘não’ que precisa ser dito ao seu irmão, ou a colocação de um silicone. Se isso vai te deixar mais feliz acho que você deve ir em frente. Não precisa fazer por ninguém, faça por você mesma. Mas não passe a vida inteira sendo politicamente correta fingindo que é feliz se você ainda não alcançou algo que deseja muito, e que está ao seu alcance. Estique-se e pegue, pronto.
Sou muito mais as peitudas!

10 de julho de 2012

Sobre o que ainda não te contaram


Não nos conhecemos bem. Na verdade nunca nos encontramos, sequer nos esbarramos na rua. Não sei se te reconheceria se te visse de perto. O que sei sobre você é de ouvir falar. Não conheço todas as histórias da sua vida nem tenho a pretensão de conhecer. Nos acho diferentes demais para trocarmos qualquer tipo de experiência e, para falar a verdade, vim te falar sobre coisas que você já deveria saber, mas não sabe.
Ele não gosta de estar só. Não gosta de conseguir ouvir o som do silêncio e, antes de dormir, o incomoda o fato de não ter pra quem ligar para dar boa noite.
Ele é carinhoso. É sincero, generoso e compreensivo, mas você precisa tirar isso dele sendo assim também. Pode não partir dele o primeiro toque, mas ele vai saber retribuir, do seu modo, qualquer carinho que tenha sido gerado por você.
Ele é fraco. Pra tudo: pra dizer o que sente, pra estar presente, pra ouvir o que você tem a falar, pra saber a verdade. Sabe toda aquela pose de durão que ele nos apresenta? Põe no lixo e pede pra que ele se livre destas máscaras para que possa, finalmente, ser apresentado a você.
Ele não é gentil. Não sabe dividir. Não sabe ouvir. Mas ele tem muitas outras qualidades que me permitiu conhecer, mas sim, eu precisei arrancar de dentro dele a vontade de me mostrar quem era. É involuntário, nada pessoal, no fim percebi que o problema não era mesmo eu, era ele. É difícil ele dizer quem é e o que sente, porque ele mesmo tem medo de ouvir a resposta e de acreditar nela.
Ele pode te magoar uma vez. Se você se disser magoada vai decepcioná-lo, mas diga. Diga sempre tudo o que sentir e mostre a ele como você pode ser decidida mesmo se entregando a outra pessoa. Mostre que amar não é sinônimo de fraqueza. Que ligar pra saber se está tudo bem não quer dizer compromisso. Que precisar falar com alguém e encontrar alguém e querer estar do lado de alguém é bonito, mostra que você ainda está vivo, que ainda sente. Mostre a ele que é bom sentir. Faça-o sentir algo também.
Ele vai sempre dizer o quanto você está bonita. Vai lembrar a cor da blusa que você usou aquele dia, há tanto tempo. E você vai perceber o quanto ele se apega aos detalhes e o quanto pode usar isso a seu favor.
Ele vai sempre querer falar sobre os seus problemas porque ele tem uma necessidade enorme de externá-los, porque esses problemas existem mesmo, e o assombram. Mostre que os outros também carregam suas dores e que falar sobre elas nem sempre alivia a alma. Mostre que o mundo não para pra que a gente possa saber de que lado está, ou para que possamos viver uma dor com mais intensidade, ou para transformar uma pessoa em um ser que ela não pode ser. Faça-o trocar o papel e te ouvir um dia. E mostre as suas fraquezas, mas sem gritar.
Ele tem amigos, e gosta desses amigos. Então, mesmo que eles não sejam o que você considera ideal, deixe-o que enxergue com os próprios olhos o que há de errado. Deixe-o precisar e ver com quem pode contar.
Não ligue. Não procure. Deixe que ele se sinta um pouco sozinho para saber como é quando isso parte dele e você não tem alternativa.
Talvez você esteja pensando que eu o conheço pouco, mas isso não é verdade. Você também pode achar que estou lhe dizendo o oposto de tudo o que acho, para que você nunca seja feliz ao lado desse homem que eu já amei. Isso também não é verdade. Mas sim, não estou fazendo isso por você; nem acho que você mereça. Faço por ele. Ele precisa de amor e de rédeas. Ele precisa de liberdade e prisão. Ele é interessado e esquecido. E talvez eu conheça algumas partes dele que você ainda não conheceu, ou talvez, depois de tanto tempo, você tenha esquecido. Venho te lembrar.
Não estou dizendo que você deva fazer tudo isso para ele. Faça o que quiser. Eu mesma não fui capaz de fazer, não fui feita para servir. Também não para ser servida. Fui feita para partilhar e isso só existe em um relacionamento onde existem papéis para os dois personagens: não foi nosso caso. Então você pode fazer o que quiser, como eu também estou fazendo o que quero.
 Mas se o que você quer é fazer esse homem feliz mais do que qualquer outra coisa na vida, saiba que precisará ser alguém que entende todas essas coisas e é capaz de perdoá-las e ainda aconselhá-lo quando for preciso. Não tenho tempo nem paciência, então, estou passando a bola para quem pode dar andamento ao que eu já considero um caso quase perdido.
Depois de tudo isso, quero lhe dizer o que considero mais preocupante e o que me fez desistir de uma vez de tudo o que vivemos: ele tem um medo terrível de ser feliz. Ele tem medo da paz e da tranquilidade, de viver sem brigas e poder conversar sobre tudo. Estranho logo ele não saber argumentar a vida, logo ele. Enfim ...
Se isso for o suficiente e se você quiser tentar de novo vá em frente. Faça-o feliz. Se você não saberá viver sem ele então faça o que precisa ser feito: aceite suas vontades e mimos. Se você quer ficar com ele para sempre aceite o homem que ele é e os defeitos que ele tem e conviva com as qualidades que ele pode lhe endereçar.
E busque, por favor, busque a felicidade ao lado deste homem e faça-o também, te fazer feliz para que você não tenha que olhar para trás e, como eu, perceber que o seu tempo ao lado dele, foi um tempo jogado ao vento.

6 de julho de 2012

As pontes


Há quem tenha medo de atravessá-las, e confesso, por experiência própria, realmente não é fácil. Não há nada de seguro nelas, nada fora o cálculo arquitetônico da coisa, mas empiricamente, a gente não sabe o que as mantém de pé. As pontes. Por isso, na maioria das vezes, é tão difícil não desistir de chegar ao outro lado.
Não é só falta de segurança na estrutura. Você não enxerga o que te espera no final. Você não sabe o que há lá, no outro lado. Se é que há algo. Pode não haver nada. Ninguém. Na dúvida, tem gente que não cruza. Eu prefiro atravessar. Ou cair no meio caminho. Mas meu pé está sempre na ponte, e eu tenho sempre metade das chances de conseguir o que quero. O que, para mim, sempre foi suficiente para arriscar.
As pontes podem ser empregos, amigos, companheiros, namorados ou alguém que simplesmente escolhemos para deixar atravessar o filtro, às vezes sem muita explicação. E a presença (e permanência) destas pessoas, são fundamentais para a adaptação à nossa nova realidade, seja ela qual for. São essas pessoas as responsáveis por nos mostrar que a nossa zona de conforto vai muito além da nossa situação atual: ela está dentro de nós.
 Ela é o seu sorriso, o seu coração batendo mais forte, a felicidade visível no seu rosto, o corar das suas bochechas, a sensação de medo, o frio na barriga, o novo amor, a nova pessoa que você é todos os dias quando acorda e a nova pessoa que você escolheu ser desde que deixou pra trás seus velhos preconceitos e resolveu atravessar a ponte.
Não confunda as coisas: a ponte não é o caminho. Ela serve sim, ela é acolhedora e muito importante. Mas ela também tem prazo de validade e, quando ele termina, você precisa seguir. Sem dores intermináveis, sem arrependimentos, sem culpa. A ponte estava no seu caminho, você fez o que precisava ser feito, passou por ela. Depois disso ela só serve de lembrança. Sim você pode olhar pra trás. Você pode levar adiante o que aprendeu enquanto caminhava sobre a ponte, mas ela não poderá ir com você para onde você for, como seu caminho pode. Então não tenha medo, atravesse sempre que preciso.
As pontes nos permitem transitar, e nos fazem entender o que é transitório. A dor, o amor, o frio, a felicidade, o problema e a solução. Elas te dão segurança para que você comece de novo a pensar no quanto é importante não ter planos, no quanto é bom não ter a menor ideia do que fazer amanhã. Elas te mostram que cada momento é só um momento e, agindo assim, te faz valorizar cada mínimo detalhe, capaz de transformar a historinha banal, no mais maravilhoso conto de fadas que você já foi capaz de sonhar.
A ponte te faz recuperar antigos hábitos. Te instiga a falar com quem já não fazia mais parte da sua vida, te mostra o certo (agindo errado muitas vezes) e te permite, mesmo que só por um momento, repensar em como tudo que você fez até aqui não teria o menor valor se você não estivesse com esse sorriso nos lábios agora.
A ponte te faz recuperar antigos hábitos; perceber o significado de andar de novo na areia com os pés descalços, de estender a mão quando o outro precisa mais do que você, dar valor a você, as escolhas que fez e a quem se tornou depois dessas escolhas.
Por isso é tão difícil atravessá-las. Mas sim, é preciso. É difícil porque elas te devolvem o bonito, a cor e o sabor. É difícil parar de querer, descer, continuar no caminho que é só um caminho, quase fácil, do qual você vinha. É preciso porque ela te transporta, te transforma e depois de tudo te liberta, para que você possa voltar a ser quem era de novo, de outro jeito, bem melhorada. É difícil porque ela mostra a você o melhor de você, e depois tem que ir embora, com grande parte do seu melhor. Mas é preciso porque elas também deixam um pouco de si, mesmo se não quiserem levar um pouco de nós.
As pontes não são para onde a gente vai: elas são o que a gente deve fazer e quem a gente deve conhecer para escrever uma história, que no final, pode ser a nossa.