Há quem tenha medo de atravessá-las, e confesso, por
experiência própria, realmente não é fácil. Não há nada de seguro nelas, nada
fora o cálculo arquitetônico da coisa, mas empiricamente, a gente não sabe o
que as mantém de pé. As pontes. Por isso, na maioria das vezes, é tão difícil
não desistir de chegar ao outro lado.
Não é só falta de segurança na estrutura. Você não
enxerga o que te espera no final. Você não sabe o que há lá, no outro lado. Se
é que há algo. Pode não haver nada. Ninguém. Na dúvida, tem gente que não
cruza. Eu prefiro atravessar. Ou cair no meio caminho. Mas meu pé está sempre
na ponte, e eu tenho sempre metade das chances de conseguir o que quero. O que,
para mim, sempre foi suficiente para arriscar.
As pontes podem ser empregos, amigos, companheiros,
namorados ou alguém que simplesmente escolhemos para deixar atravessar o
filtro, às vezes sem muita explicação. E a presença (e permanência) destas
pessoas, são fundamentais para a adaptação à nossa nova realidade, seja ela qual
for. São essas pessoas as responsáveis por nos mostrar que a nossa zona de
conforto vai muito além da nossa situação atual: ela está dentro de nós.
Ela é o seu
sorriso, o seu coração batendo mais forte, a felicidade visível no seu rosto, o
corar das suas bochechas, a sensação de medo, o frio na barriga, o novo amor, a
nova pessoa que você é todos os dias quando acorda e a nova pessoa que você
escolheu ser desde que deixou pra trás seus velhos preconceitos e resolveu
atravessar a ponte.
Não confunda as coisas: a ponte não é o caminho. Ela
serve sim, ela é acolhedora e muito importante. Mas ela também tem prazo de
validade e, quando ele termina, você precisa seguir. Sem dores intermináveis,
sem arrependimentos, sem culpa. A ponte estava no seu caminho, você fez o que
precisava ser feito, passou por ela. Depois disso ela só serve de lembrança.
Sim você pode olhar pra trás. Você pode levar adiante o que aprendeu enquanto
caminhava sobre a ponte, mas ela não poderá ir com você para onde você for,
como seu caminho pode. Então não tenha medo, atravesse sempre que preciso.
As pontes nos permitem transitar, e nos fazem
entender o que é transitório. A dor, o amor, o frio, a felicidade, o problema e
a solução. Elas te dão segurança para que você comece de novo a pensar no
quanto é importante não ter planos, no quanto é bom não ter a menor ideia do
que fazer amanhã. Elas te mostram que cada momento é só um momento e, agindo
assim, te faz valorizar cada mínimo detalhe, capaz de transformar a historinha banal,
no mais maravilhoso conto de fadas que você já foi capaz de sonhar.
A ponte te faz recuperar antigos hábitos. Te instiga
a falar com quem já não fazia mais parte da sua vida, te mostra o certo (agindo
errado muitas vezes) e te permite, mesmo que só por um momento, repensar em
como tudo que você fez até aqui não teria o menor valor se você não estivesse
com esse sorriso nos lábios agora.
A ponte te faz recuperar antigos hábitos; perceber o
significado de andar de novo na areia com os pés descalços, de estender a mão
quando o outro precisa mais do que você, dar valor a você, as escolhas que fez
e a quem se tornou depois dessas escolhas.
Por isso é tão difícil atravessá-las. Mas sim, é
preciso. É difícil porque elas te devolvem o bonito, a cor e o sabor. É difícil
parar de querer, descer, continuar no caminho que é só um caminho, quase fácil,
do qual você vinha. É preciso porque ela te transporta, te transforma e depois
de tudo te liberta, para que você possa voltar a ser quem era de novo, de outro
jeito, bem melhorada. É difícil porque ela mostra a você o melhor de você, e
depois tem que ir embora, com grande parte do seu melhor. Mas é preciso porque
elas também deixam um pouco de si, mesmo se não quiserem levar um pouco de nós.
As pontes não são para onde a gente vai: elas são o
que a gente deve fazer e quem a gente deve conhecer para escrever uma história,
que no final, pode ser a nossa.
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