7 de novembro de 2011

Perdas e ganhos

A vida é feita de escolhas. Muitas vezes, ao escolhermos uma coisa, consequentemente, abrimos mão de várias outras. Mas é isso: precisamos trilhar um caminho, com nossas conquistas e dores, com nossas crenças e valores, repleto de coisas que acreditamos e não acreditamos; e é preciso que esse caminho seja pleno. Para mim, pelo menos, isso é a coisa mais certa: quero trilhar por um caminho de paz, que não me traga desilusões a cada passo, que não me faça chorar sempre depois de sorrir, que não me faça mal, principalmente. E para isso, esse caminho não pode ser seguido por ruas que se cruzam, ele não pode ser ambíguo. É preciso seguir, sempre, na linha que a sua ética e consciência lhe definem.

Por isso insisto em dizer que, muitas vezes, para seguir por um caminho calmo, é preciso abrir mão de muitas coisas. Você está disposto? Nem sempre é fácil. E é bom começarmos nosso caminho carregando essa frase no bolso.

Viver um casamento significa abrir mão de algumas milhares de coisas, da mesma forma que viver uma solteirice feliz, também significa ser privada dos prazeres da vida a dois. Estar junto com alguém significa, antes de mais nada, ser leal a esse alguém. Significa que depois de brigar você precisa solucionar o problema que atrapalha a sua felicidade; significa que você não vai ficar completamente sozinho depois de chegar em casa; significa que você não tem mais uma vida solitária, e isso implica em muitas outras descobertas. Estar só, por sua vez, significa que você pode aproveitar o máximo o seu dia, pode dançar até se acabar a noite, pode beber, rir, brincar, mas vai ter que se acostumar a fazer isso sozinha. Claro que você tem sua família, seus amigos, seus irmãos, mas muitas vezes só isso (e tudo isso) não é o suficiente. Não é demagogia ao casamento: às vezes estar com alguém também pode não ser o suficiente. Esses dias vi um filme que distorcia o ditado “Antes MAL do que SÓ acompanhado”. É mais ou menos por aí.

Escolher uma profissão também é abrir mão de todas as outras. Isso pode ser bom ou péssimo. Sou jornalista, amo o meu trabalho e sou completamente apaixonada por comunicação, mas nunca vou ser a atriz que sonhei ser durante a minha vida inteira. Nunca vou virar, para estudantes, a professora de primário que era para o meu irmão. Nunca vou me tornar a artesã que fazia presentes nas datas especiais. Não serei a psicóloga que ensaiei muitas vezes na frente do espelho nem a nutricionista que disseram que eu levava jeito para ser. Porque fiz uma escolha e ainda tenho muito o que trabalhar dentro dela. Mas também não serei nunca (graças a Deus) a médica que nunca quis ser, a advogada que defende quem não tem razão, a freira que se esconde atrás de um pedaço de pano, a enfermeira que ouve a dor e a contadora mal sucedida. Também escolhi quem não queria ser.

Dar apenas um nome a um filho significa não dar milhares de outros nomes que você escuta todos os dias. Significa que as suas filhas não poderão ter o nome que tinham todas as suas bonecas, e que o nome de todos os galãs também não cabe dentro do seu pequeno menino. Dar nome a um filho significa, quase que somente, lhe delegar uma identidade. Você pode escolher também todos os nomes que você não quer que seu filho carregue para o resto da vida.

A gente nasce cheio de ensinamentos, e desaprendemos ao longo da vida. São coisas que deixamos no caminho, que muitas vezes atiramos ao vento, e que ensinamos aos outros ao mesmo tempo que desaprendemos. Nascemos, também, cheios de medos, de coisas que não temos e que não sabemos, e que vamos adquirindo a medida que conhecemos as pessoas, que aprendemos com a vida, que vamos inventando sonhos.

São perdas e ganhos. O que perdemos e o que ganhamos. O que vamos deixando para trás e o que vamos acumulando. Deixar dores, mágoas e angústias não é problema. Carregar alegrias, sentimentos bons e energias positivas também não. Mas é preciso sempre renovar o filtro. O que estamos carregando vale a pena?

Algumas coisas quero carregar para sempre, outras, como João e Maria, quero aprender e ir atirando no caminho, para que os próximos entendam também, que mesmo o importante, não precisa ser carregado para sempre. Ás vezes, como conta a história, é preciso deixar uma pequena parte para os passarinhos qu chegam a todo momento.



Por Manoela Soares (@manunsoares)


Um comentário: