10 de janeiro de 2012

O que ainda nos une

Aquelas roupas no varal que ainda são suas. Aquele porta-retrato vazio. Aquelas frases apagadas. Aquelas gavetas vazias.
Os sonhos que não eram meus. As roupas que comprei por sua causa. As fotos que tirei pensando que você veria. Aquele filme que eu não assisti. Aquele livro que eu não li.
Aquelas coisas atiradas que ainda trazem a sua lembrança pra mim.
Aquela mateira nova. Aquele moletom com o seu cheiro. Aquele chuveiro que você instalou.
Você está por toda parte desta casa. Em cada porta que eu abrir, lá está: você inteiro. Sua ideologia, seu gosto, o que você comprou, o que você não gosta. Está tudo lá. Ainda.
E tudo ainda nos une.
Aquela cama vazia, aquele lençol macio, aquele banheiro sem espelho, aquela louça suja que você usou.
As janelas fechadas e os vidros quebrados, as plantas e os dias que começaram a ficar vazios. Tudo isso ainda nos une. As músicas que me fazem lembrar você. Os convites que você me fez há anos e que ainda penso: - E se a resposta tivesse sido sim?
E se todos os “E se” fossem diferentes? Quem nós seríamos?
Aquela almofada em cima do armário, aquela carta guardada a sete chaves, a sua letra, a sua voz. Aquela música que você me fez gravar em um CD e que eu ouvi dia e noite.
O que ainda nos une é quase tudo o que vejo, quase tudo o que toco, quase tudo o que penso. O que nos une é tudo o que não é palpável. São todos os sentimentos que não podem ser descritos por falta de palavras. O que nos une é tudo o que eu não vejo. É o seu rosto, que eu quase já não reconheço. O que nos use são quase todas as coisas, mas é principalmente, a minha vontade infindável de estar, de alguma forma muito sutil, mas ainda assim muito intensa, ainda ligada a você para sempre.


Por Manoela Soares (@manunsoares)

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