23 de setembro de 2013

Viver é transgredir

Sábado passado eu estava no carro com as minhas duas irmãs, de 3 e 8 anos, quando buzinei para um carro que saia da garagem sem olhar o movimento. Como elas riram, e a carona era curta, buzinei mais várias vezes durante o percurso. Cumprimentamos a lua, todos os cachorros pelos quais cruzamos, buzinamos para os carros estacionados, e para tudo o que se mexia – como moramos em um bairro sem trânsito algum, não estávamos atrapalhando ninguém. Depois de um tempo, a Helena me olhou e disse. “Ai mana, chega, que vergonha!”. Eu logo arregalei os olhos. “Vergonha de quê?”. “Tá todo mundo nos olhando, né?”. Não. Claro que não estava todo mundo nos olhando já que estávamos dentro de um carro com insulfim, numa rua sem movimento algum. Mas eu também já pensei assim.

Eu já tive vergonha de ser deixada de carro na porta do colégio e mais vergonha ainda, quando dormia na casa da minha avó, e tinha que chegar de táxi. Já senti vergonha por não ter o tênis que todo mundo tinha, por não comprar na loja onde todo mundo comprava, por ter que levar o meu lanche de casa em vez de comprar no bar do colégio.

Já senti vergonha por ter que ler em voz alta em sala de aula, por apresentar um trabalho para os meus colegas, por esquecer o que ia falar na frente de alguém importante, por alguém que dançava de um jeito estranho e por tantas outras coisas que nem caberiam em um texto só.

Graças a Deus que fazer aniversário não significa apenas envelhecer, mas também, e principalmente, deixar de se importar com o que não tem importância. A gente aprende que alguma regras – e principalmente as de bons modos – são para se transgredir. Porque tanto faz o que os outros acham que você é ou que você tem. O que importa, mesmo, é que você seja feliz e seguro o suficiente, a ponto de entender que a opinião dos outros, é só a opinião dos outros. Mas a sua opinião sobre você mesmo, essa sim, deve ser levada em consideração pra sempre.

Quando somos menores e ainda não fizemos as nossas escolhas, não temos segurança sobre o que somos, então é bem normal que as coisas nos envergonhem. Mas depois não temos mais desculpas. Porque a gente não precisa mais satisfazer os outros o tempo todo. A gente não precisa ser aceito por todo mundo. A gente entende que não vai gostar de todas as pessoas e todas as pessoas não vão gostar da gente e que isso é normal. Que nos identificamos com um amor, com uma profissão, com uma estação do ano, com um tipo de corte de cabelo, com uma tendência para se vestir e que, são todas essas coisas, que nos fazem ser quem somos. Nos fazem ter identidades diferentes, vontades contrárias, e é essa essência que nos torna seres  importantes.

Passados os anos descobrimos que ser legal vale mais que ser bonito. Que estudar rende mais do que matar aula. Que usar óculos, ter uns quilinhos a mais, dançar como se não houvesse amanhã e não ter medo de expressar a nossa própria opinião é infinitamente melhor do que ser exatamente como os outros esperam que a gente seja.


Um comentário:

  1. Vergonha de levar sagu, né fi?? O melhor de envelhecer é ver e acompanhar a maturidade dos filhos...

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