Sábado passado eu estava no carro com as minhas duas irmãs,
de 3 e 8 anos, quando buzinei para um carro que saia da garagem sem olhar o
movimento. Como elas riram, e a carona era curta, buzinei mais várias vezes
durante o percurso. Cumprimentamos a lua, todos os cachorros pelos quais
cruzamos, buzinamos para os carros estacionados, e para tudo o que se mexia –
como moramos em um bairro sem trânsito algum, não estávamos atrapalhando
ninguém. Depois de um tempo, a Helena me olhou e disse. “Ai mana, chega, que
vergonha!”. Eu logo arregalei os olhos. “Vergonha de quê?”. “Tá todo mundo nos
olhando, né?”. Não. Claro que não estava todo mundo nos olhando já que
estávamos dentro de um carro com insulfim, numa rua sem movimento algum. Mas eu
também já pensei assim.
Eu já tive vergonha de ser deixada de carro na porta do
colégio e mais vergonha ainda, quando dormia na casa da minha avó, e tinha que
chegar de táxi. Já senti vergonha por não ter o tênis que todo mundo tinha, por
não comprar na loja onde todo mundo comprava, por ter que levar o meu lanche de
casa em vez de comprar no bar do colégio.
Já senti vergonha por ter que ler em voz alta em sala de
aula, por apresentar um trabalho para os meus colegas, por esquecer o que ia
falar na frente de alguém importante, por alguém que dançava de um jeito
estranho e por tantas outras coisas que nem caberiam em um texto só.
Graças a Deus que fazer aniversário não significa apenas
envelhecer, mas também, e principalmente, deixar de se importar com o que não
tem importância. A gente aprende que alguma regras – e principalmente as de bons
modos – são para se transgredir. Porque tanto faz o que os outros acham que
você é ou que você tem. O que importa, mesmo, é que você seja feliz e seguro o
suficiente, a ponto de entender que a opinião dos outros, é só a opinião dos
outros. Mas a sua opinião sobre você mesmo, essa sim, deve ser levada em
consideração pra sempre.
Quando somos menores e ainda não fizemos as nossas escolhas,
não temos segurança sobre o que somos, então é bem normal que as coisas nos
envergonhem. Mas depois não temos mais desculpas. Porque a gente não precisa
mais satisfazer os outros o tempo todo. A gente não precisa ser aceito por todo
mundo. A gente entende que não vai gostar de todas as pessoas e todas as
pessoas não vão gostar da gente e que isso é normal. Que nos identificamos com
um amor, com uma profissão, com uma estação do ano, com um tipo de corte de
cabelo, com uma tendência para se vestir e que, são todas essas coisas, que nos fazem
ser quem somos. Nos fazem ter identidades diferentes, vontades contrárias, e é essa essência que nos torna seres importantes.
Passados os anos descobrimos que ser legal vale mais que ser
bonito. Que estudar rende mais do que matar aula. Que usar óculos, ter uns
quilinhos a mais, dançar como se não houvesse amanhã e não ter medo de
expressar a nossa própria opinião é infinitamente melhor do que ser exatamente
como os outros esperam que a gente seja.
Vergonha de levar sagu, né fi?? O melhor de envelhecer é ver e acompanhar a maturidade dos filhos...
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