1 de dezembro de 2011

A baleia

Há quem diga que tudo está relacionado a ela. O que fazemos e escolhemos fazer; o que pensamos; o que vivemos; tudo. Há quem pense que é por ela, e só por ela, que as coisas fazem algum sentido na vida. Não sei se já cruzei com a minha, não sei se sei quem ela é, mas cedo ou tarde, eu acho que todos nós, encontraremos a nossa baleia. Hoje entendi que encontrá-la não é o principal: precisamos carregá-la e principalmente vivê-la, se é que isso é possível.

Essa história começou sem pretensão alguma de acontecer. Ela nem é uma história. Hoje, eu conheci a Maria Antônia. De nome lindo e sorriso farto, conversamos, eu com 22, ela com sete, e nos entendemos e desabafamos, e viramos melhores amigas em menos de um minuto. Não lembro porque começamos a conversar, não sei o que a Maria Antônia me perguntou. Mas depois de um tempo de conversa ela me disse que costumava sair muito com o pai. Que ele a levava para a floresta, que eles se divertiam muito juntos, que depois ele virou pescador e que um dia o barco dele afundou. “E foi aí que ele foi para o céu”, me disseram aqueles olhos tristes. “Mas agora tá tudo bem, eu to só com a minha mãe e o meu irmãozinho”. Respirei fundo e pensei que precisava ser forte para encarar aquela conversa que não procurei, mas que estava ali, e a Maria Antônia precisava falar com alguém. Eu precisava ser forte por ela, ou teria que simplesmente, virar e ir embora, deixando uma criança de sete anos falando sozinha. Para qualquer criança, o céu deveria ser apenas o lugar em que moram as estrelas e a lua. Nada mais.

A Maria Antônia me disse que o pai saiu para pescar no dia do aniversário dela. Há muitos anos (palavras dela). “E ele era muito bom na pescaria. Ele pegou muitos e muitos peixes. Sabe aquela parte debaixo do barco? Meu pai encheu ela de peixes. E foi pegando cada vez mais e mais e mais e mais peixes. Daí a rede ficou muito pesada porque meu pai tinha pego uma baleia. Ela era muito grande, e quando ele colocou ela para dentro do barco, ficou tão pesado, mas tão pesado que afundou, e ninguém sabia nadar. E é tudo isso”.

Para todo o sempre, a verdade sobre o pai da Maria Antônia, para mim será somente essa. Tomara que ela também acredite no que foi capaz de me dizer, para sempre. Tomara que tenha a ingenuidade de enxergar aquele simples pai pescador, como o maior de todos os heróis.

Talvez a balei dele tenha sido a própria Maria Antônia, que um dia, ensinaria a pelo menos uma pessoa 15 anos mais velha, que contos de fadas podem ser reais. Talvez a baleia dele seja essa filha, esse ser especial que vai levar uma mensagem linda por onde passar. Não acredito que tenha caído na rede dele algum dia, trunfo maior do que essa filha.


Pescamos muitos peixes durante toda a nossa vida. Também é verdade que alimentamos outros aquários. Mas um dia, nos deparamos com uma baleia. Uma baleia imensa. Todos nós. É pelo menos nisso que muitas pessoas acreditam. Um dia fazemos uma grande coisa na nossa vida, e isso justifica tudo! E só depois de termos encontrado a nossa baleia, poderemos deixar nosso barco afundar.

É assim que se muda o mundo. Com uma pequena ideia que pode ser a sua mais arriscada oportunidade. Ou você pesca, ou prefere não correr o risco. Você escolhe.

Ainda não fiz nada na minha vida que justifique minha ausência. Não quero deixar um legado, nem virar nome de rua. Mas ainda quero fazer algo grande, que me orgulhe. Quero deixar a minha baleia pelos mares, mesmo que eu não possa mais navegar. E se um dia eu encontrar um pescador no fundo do oceano, com a rede cheia, vou dizer que aprendi tudo com ele, e com uma grande e talentosa baleia, a quem ele conhece melhor do que ninguém.




Por Manoela Soares (@manunsoares)


2 comentários:

  1. Meu Deus, fi! Que coisa linda! Me impressiono como consegues fazer de simples momentos da vida, lições para se eternizar em nossas memórias. Muito emocionante!!!

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