Desde que me mudei tenho notado, mais do que nunca,
as mais variadas formas que as pessoas têm de demonstrar o seu amor.
Eu não quis fazer despedida. Não quis reunir os
amigos e vê-los sair pela porta deixando minha casa vazia e minha cabeça cheia
de caraminholas. Preferi simplesmente ir embora como se nada tivesse
acontecido. Mesmo assim me senti acolhida em abraços verdadeiros de saudade de
quem ainda me tinha por perto. Recebi ligações de pessoas que não costumavam
ligar sempre, palavras doces daqueles que vemos todos os dias e para quem
esquecemos de dizer também todos os dias o quanto nos são importantes.
A primeira demonstração foi da minha vó, com quem
tenho uma relação de afeto muito forte, mas que quase não é permeada por
palavras. Ela me confidenciou que no início ficou triste com a minha ida, mas
sabia que seria para o meu bem e que já tinha até se acostumado com a idéia. Mas
a melhor parte foi quando ela me disse que não tinha assistido nenhum debate
dos candidatos à prefeitura. Nenhum. Exceto o dos candidatos de Canoas (cidade
para a qual me mudei). “Estás bem de prefeito, Manô, ele é jornalista” me disse
ela. Existe demonstração de amor que signifique mais?
Minha amiga chegou na minha casa com um embrulho
grande de presente e disse: “Para a tua nova casa”. Era um balde, com
prendedores de roupa de bichinho e ela acrescentou. “Comprei porque tem uma
tartaruga aqui no meio, lembrei de ti”. Nenhum armário, fogão ou cama (coisas
das quais preciso de verdade) substituem esse carinho. Não tem demonstração de
amor maior do que prendedores de bichinho para pendurar as roupas de um jeito
bonitinho na minha casa nova!
Meu pai trocou a geladeira dele pra me dar a antiga.
Minha tia decidiu trocar de sofá para me dar o dela. Minha mãe tirou a mesa da
churrasqueira para eu levar. Um amigo dela largou o que tinha para fazer para
nos ajudar na mudança. O próprio síndico do prédio chegou a me emprestar um
telefone, para que eu não ficasse sem no meu apartamento. O zelador se ofereceu
para ficar com a chave para que, quando a minha cama que foi encomendada chegasse,
eu não precisasse sair do trabalho para recebê-la. Meus colegas já me passaram
telefones de academias, cabeleireiros, sugeriram lojas e se colocaram a
disposição ‘para qualquer coisa’.
Minhas amigas foram tomar mate lá em casa e mesmo
sabendo que era a última vez que tomaríamos mate antes da mudança, respeitaram
meu medo e me abraçaram fundo na hora de irem embora, mas não me deram tchau.
Minhas irmãs ficaram felizes porque eu ia morar em
uma cidade com shopping e cinema.
Meu namorado separou furadeira, fita métrica, prego,
martelo, T, fita isolante, cabo pra não sei o que e tudo mais o que se pode
imaginar para salvar quem mora sozinho.
Meu primo disse que vai ficar com meu quarto.
Meu primo disse que vai ficar com meu quarto.
Meu irmão disse que estava muito ocupado vendo um
filme um dia que eu liguei para saber como estava. Simples assim. Simples assim
como ele é, como eu sou, como as coisas devem ser sempre, sem complicação.
Todo mundo fingiu que estava tudo bem. E ficou. Talvez
por isso tenha ficado! Porque foi com essas pessoas que eu também aprendi a
amar e a demonstrar o meu amor, principalmente.
Porque um eu te amo vazio não significa nada. Mas prendedores
decorados, esses sim, ficam para sempre!
Meu Deus do céu!!!!!
ResponderExcluirQue lindo isso fi!
Foi bem assim e sempre será assim!
Tu tá em tudo, em todas as coisas, o tempo todo!