25 de fevereiro de 2013

Sobre não saber


Eu sempre fantasiei muito as coisas. Sempre, desde pequena. Já escrevi sobre isso. Eu olho pra uma pessoa que nunca vi na vida e traço a sua biografia inteira. Eu não sei nada sobre ela, absolutamente nada. Mas inventar uma história sobre a sua vida inteira, também desperta coisas em mim, boas e ruins, e por isso essa mania nunca vai embora. Eu me sinto ‘cheia’ por não saber e, por isso, poder inventar, e me alimentar dessa invenção.

Um exemplo: meu cachorro se perdeu na semana passada. Quando a minha mãe ligou pra contar eu não senti medo. Eu tinha certeza que ele voltaria para casa, que ele só estava dando uma volta na praia, coisa que não fazemos mais com ele desde que machucou a pata. Era a chance dele! Os dias passaram. As pessoas ligavam, a gente ia atrás e não era o Tchê. Nenhuma das vezes. Agora eu já não tenho mais certeza sobre um monte de coisas que eu tinha. Eu não sei se ele só foi mesmo dar uma volta. Eu não sei se existe alguém, que não somos nós, dando uma volta com ele. Eu não sei onde ele dorme e o que ele está comendo e com todo o meu pessimismo, pela primeira vez na vida, eu estou tranquila.
Eu estou tranquila porque já fantasiei que uma pessoa muito boa encontrou o Tchê todo eufórico na rua e o colocou dentro de casa para cuidar dele e acalmá-lo enquanto não acha quem o esteja procurando. Estou tranquila porque fantasiei que essa pessoa tem filhos maravilhosos, que passam o dia inteiro brincando com o Tchê e fazem carinho nele antes de dormir e devem ter pedido, inclusive, pra que ele dormisse junto com eles, no quarto. Estou calma porque acho que, agora, só falta essa pessoa ver um dos cartazes que distribuímos para nos ligar e dizer que está com o nosso cachorro.
Eu acho mesmo que as coisas estão acontecendo exatamente assim. Eu não sei mais nada sobre a vida do Tchê nos últimos dias, mas o pensamento que eu tenho me conforta, me dá força, e alimenta a minha alma. Porque mais do que tudo, ele merece estar bem, então, minha única certeza agora, que não sei de nada, é de que ele está.



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