12 de setembro de 2011

Uma vez

Um filho só nasce uma vez. Aprendemos a andar de bicicleta uma vez. Temos nosso primeiro dia de aula só uma vez. Podemos ver nosso nome na lista de aprovados no vestibular uma única vez. Entregamos nosso TCC uma vez. Vemos a formatura de uma amigo querido uma vez. Pode ser que a gente se case só uma vez. Pode ser que aquela conversa nunca mais aconteça se deixarmos o momento passar. Pode ser que aquele abraço nunca mais seja tão verdadeiro. Pode ser que várias coisas a nossa volta aconteçam apenas uma vez. Só fazemos 18 anos uma vez, 21 uma vez, 50 uma vez. Pode ser que alguém precise de nós apenas uma vez. Pode ser que a gente não esteja presente só uma vez. E isso pode mudar tudo para alguém, mesmo que não mude para nós.

Sou fã de ficar braba com as coisas. De me emburrar, fechar a cara e ficar de burro mesmo. Eu perdôo, mas não esqueço. Esses dias eu estava conversando com a minha mãe no carro, tomando um chimarrão, na beira da praia. O Laranjal é o cenário de muitas conversas importantes na nossa vida, me dei conta disso agora. Um sábado atrás tinha acontecido o chá de bebê da minha prima, e minha mãe estava viajando. Ela não pode ir. “Chá de bebê é sempre a mesma coisa, a gente comeu, conversou, enfim”, eu disse pra ela. “Mas pode ser que esse seja o último chá de bebê dela”. Pensando assim a coisa fica mais séria mesmo. Minha mãe chegou no mesmo sábado do chá, mas a noite, de madrugada na verdade. Fizemos todo um esquema para deixar o carro na casa da minha avó, a mãe deixou roupas lá, e quando desceu do táxi depois de 12 horas de viagem foi à formatura da filha de uma das melhores amigas dela. Minha mãe poderia ter se justificado, e dito que estaria cansada quando chegasse (o que a maioria das pessoas faria). Foi quando a mãe me disse. “Essas coisas só acontecem uma vez Manoela. Se eu não desse um beijo na Lála, esse momento tão especial para ela passaria. A filha dela só vai se formar uma vez”. É verdade.

Esse é o tipo de erro que cometi, cometo mas espero, do fundo do coração, não cometer mais: faltar. Faltar fisicamente, mesmo que estando junto. Faltar simplesmente por achar que não era assim, tão importante a minha presença. É uma pena, mas quem sabe disso não é a gente. E por não nos acharmos essenciais, muitas vezes faltamos com alguém.

Não quero deixar passar nada na minha vida, mas principalmente, não quero deixar passar o essencial. Não quero faltar em ocasiões especiais, mas mais que isso, não quero faltar em ocasiões únicas. Todo dia é diferente do outro. Hoje pode ser o último dia de alguém. Ou o primeiro. O importante é estarmos presentes. Não sempre, o tempo todo. Mas quando conseguirmos enxergar que mais do que o nosso presente, é necessária a nossa presença.



Por Manoela Soares (@manunsoares)

3 comentários:

  1. ai gorda, esse texto me fez pensar o quanto tu me faz falta, o quanto me pesa não fazer parte das pequenas coisas da tua vida, não saber como, quando nem por que tu queimou o dedo, não saber o que tu fez ontem ou vai fazer amanhã.. eu sei que a nossa amizade não precisa mais disso, mas me permito mesmo assim sentir falta de tudo.. :(

    e viu só como eu fechei a visita de número 4mil? que orgulho!

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  2. Trocando nossas experiências, vivenciamos melhor as coisas da vida! Amu tu!

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