27 de setembro de 2011

Quase

Nem sei quanto tempo faz que escrevi esse texto. Novo e velho!


"Ele prometeu que voltaria. Deixou tudo como estava dentro do coração dela e se jogou no mundo para viver e aproveitar a vida que não tiveram juntos. Ela disse que tudo bem, esperaria o tempo que fosse. E com a alma colorida e de peito aberto se reergueu desejando sempre uma volta. Ele, de vez em quando ligava; não queria perder completamente o contato com aquela que julgava ser o amor de sua vida. E ela, cheia de esperança, atendia as ligações que não duravam muito mais que meia dúzia de palavras bonitas, mas vazias. Banhado em lágrimas, o telefone era abandonado novamente.

E ele se apaixonou. E ela encontrou alguém. E eles quase deixaram de existir. Quase. Não fosse essa maldita mania humana de tratar o passado como um ente querido. E eles tiveram saudade. E eles muitas vezes se encontraram. Mas eles, não existiram mais. Ou quase.

E entre comparações e saudade ela pensou que fosse enlouquecer, com esse novo alguém que quase substituiu o outro amor. Quase. Ela viveu por anos pensando o que ele estaria fazendo, quem levava a seu lado pela mão, se ainda detestava limpar a casa. Mas prolongava sua estada com essa nova pessoa que, afinal de contas, a fazia sentir-se bem.

E ele, ah ele, ele andava pelo mundo arrancando suspiros e sorrisos desavergonhados os quais nunca recebeu dela. Ele via a vida de forma muito mais interessante agora, apesar de sentir falta dela. Mas ela e a nova vida simplesmente nunca andariam a mesma trilha. Então, ele optou por ele mesmo.

Ela sentia frio na barriga ao vê-lo passar bem longe. Mas era seu novo amor quem a abraçava e cuidava quando faltava colo. Mesmo assim, quando o beijava, ao fechar os olhos, imaginava ele. Que poderia ser ele. Que seria ele. Que aquele beijo era dele.

E ele sentia-se tão bem ao vê-la sem fôlego na sua presença que chegava a instigar sua vontade de estar junto de novo com uma nova mensagem, que só embaralhava mais a cabeça dela. E a vontade de estar junto era tanta que nos sonhos, sempre havia uma possibilidade de fugir. Mas ela sempre se arrependia e voltava. Eles quase ficaram juntos para sempre em sonho. Mas não conseguiram.

Foram se passando os anos, as notícias vinham, abalavam, passavam, vinham, se confirmavam, passavam. Ela tinha certeza de que o que eles sentiam não havia acabado enquanto seu novo amor pensava construir um lar. Ela gostava da pessoa com quem dividia a vida e tinha certeza de que, se pudesse, a escolheria. Mas já não era uma questão de escolha aquela história com ele acabava a engolindo aos poucos e levando sua vida, sua oportunidade de ter filhos, seus sonhos de refazer a casa que eles haviam planejado.

Ele quase voltou várias vezes.

Ela quase ligou todos os dias durante todos os anos.

E assim eles ficaram, quase sem saber um do outro, deixando a história que poderia ter um belo ponto final se arrastar por anos e anos sem nunca saber se alguém vai terminar de escrevê-la.

Eles nunca mais se falaram. Então ela ainda achava que havia algo para resolver entre aqueles corações. Ela tinha certeza de que, se eles se encontrassem, o amor ressurgiria do peito que nunca deveria tê-lo deixado ir. Eles quase se encontraram.

Um dia ela acordou diferente. Depois de passar anos sem notícias dele, já não existia mais nada a ser resolvido. Sua vida estava ali a um passo. Só faltava ela pisar, era só colocar o pé no chão. E ela colocou. Num piscar de olhos as coisas fizeram sentido. Seu amor estava a sua frente, sua casa quase pronta, sua vida tomando o rumo que ela sempre sonhou, e ela estava feliz. Estava, sem se dar conta, feliz de verdade. Quase teve medo dessa felicidade sem ele. Mas pisou fundo o acelerador e correu pra resolver as pendências que haviam passado a sua frente durante e ela não segurou. Se arrumou mais, penteou o cabelo de um jeito novo, saiu na rua quase que dizendo muito prazer aquele céu que insistia em não reparar. Beijou apaixonadamente seu ‘novo amor’ que no fim das contas, não tinha nada de novo. Ela mesma o pediu em casamento.

Analisando sua vida hoje ela sente um frio só de pensar que as coisas poderiam ter sido diferentes. E elas quase foram. Quase."



Por Manoela Soares (@manunsoares)

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