25 de outubro de 2011

Eu queria acreditar

Às vezes eu preciso rezar. Sinto falta de acreditar em alguma coisa, de me apoiar sob a fé, de não temer o que não posso mudar e acreditar que existe, sim, algum tipo de justiça, mesmo que não seja no plano dos homens. Às vezes me sinto sozinha sem fé. Me pego quase fazendo uma oração, mas não faço. Implico com as frases prontas, inventadas por outras pessoas, que quase não dizem o que quero dizer, que não traduzem as coisas que eu gostaria de falar. Afinal: rezar é repetir aquelas frases decoradas desde a infância? Então não rezo, eu falo.

Eu falo de noite antes de dormir, principalmente quando estou explodindo de felicidade. Quando sinto que preciso agradecer pelas coisas que tenho, que consigo e até por ainda cultivar sonhos. Falo quando estou com muita saudade de alguém, falo baixinho sobre esse alguém, lembro (e conto) as coisas que já vivemos, rio delas, choro muito. Falo quando chove e não sei para onde vão as crianças que moram na rua enquanto estou bem quentinha na minha cama. Falo quando está vento de arrancar telhado e me pergunto o que faz um pai que acorda no meio da madrugada e descobre que precisa arranjar, naquele momento, um novo lugar para levar seus filhos. Falo quando está tudo bem e quero dizer que está tudo bem, nada demais. Falo quando não estou legal e quando percebo que algumas coisas não me fazem bem e não me tornam melhor. Então falo para talvez afastá-las, falo para tentar acordar uma pessoa melhor no outro dia.

Eu só não sei quem me ouve. Não sei pra quem chegam minhas palavras. Também não sei se preciso saber. Não sei se acredito que existe alguém, de barba sentado numa poltrona majestosa em pleno céu, enquanto estamos aqui em baixo. Não sei se acredito que alguém possa estar presente em todas as coisas sempre, não sei se acredito em alguém que seja capaz de perdoar tudo, não sei se esse alguém cuida de quem já se foi, se existe um outro plano não sei onde. Não sei se existe alguém. Não sei se acredito nisso. E não gosto de não saber no que acreditar, de não conhecer a fé em sua imensidão, de não me permitir sentar num banco de igreja pra rezar e de achar as construções da casa de Deus maravilhosas e luxuosas enquanto vejo pessoas dormindo em soleiras de porta.

Não gosto de não saber no que acreditar, mas também não sou capaz de me permitir acreditar em qualquer coisa.

Acho que estou numa fase de encontro comigo mesma. Um tanto quanto introspectiva e chata, mas paciência. Se eu encontrar também minhas crenças no que está além do que podemos ver e sentir, volto e conto. Por enquanto posso, somente, ser chamada de louca por falar sozinha a maioria das noites.



Por Manoela Soares (@manunsoares)

3 comentários:

  1. De vez em quando sinto isso também. E falo também. É um bom exercício...

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  2. "Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó SENHOR, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir" Salmo 139:4-6

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