Peguei a Helena na casa de uma tia. Ela abraçada na
sacola de roupa nova. Eu com a mochila do colégio. De mãos. Entramos no carro,
colocamos o cinto, eu pedi para que ela soltasse a sacola com as roupas novas.
- Não mana,
fica no meu colo.
- Tá bem, então
me mostra o que tu ganhou.
Qualquer coisa que postergasse o assunto.
Ela mostrou todas as peças, uma por uma, disse que
escolheu todas e que a tia esqueceu de pegar uma saia que ela tinha ‘adorado’. Ela
dobrou uma por uma as roupas e colocou no meu colo, enquanto eu dirigia. Fez uma
pilha. Arrumou a sacola, agora vazia, no colo, e começou a guardar uma por uma
aquelas pecinhas, pequenas, bem dobradinhas por ela. Pensei que aquele seria um
bom momento.
- Sabe aquela
cidade que tu foi com o papai, a mamãe e a Isa? Que vocês foram no cinema, no
shopping, ficaram num hotel?
- Aham, Porto Alegre.
- É, Porto
Alegre. Bem pertinho dessa cidade tem outra, que se chama Canoas. A mana vai
morar lá.
- Vai? (perguntou
ela com a testa enrugada) Por que mana?
- Porque a mana
vai trabalhar lá agora. Mas a mana vem todo o final de semana!
Ela pegou mais uma peça de roupa, e guardou na
sacola. Ficou quieta, meio beiçuda. Eu lembrei do dia em que fiquei sabendo que
teria uma irmã. Eu sempre quis ter uma irmã. Depois lembrei do dia que ela
nasceu, de quando estava aprendendo a caminhar e a falar, e das palavras
erradas que pedíamos que ela repetisse. Lembrei das coisas que nos aproximaram
desde sempre, do que nos faz parecidas mesmo com os 15 anos que nos separam. Lembrei
dos nossos passeios juntas, das coisas que eu tenho certeza que ela só disse
para mim, das demonstrações de amor que me transformaram em uma pessoa muito,
mas muito melhor do que jamais pensei que seria. Pensei em como o amor ensina e
modifica. Lembrei de uma vez que ela viu um menino chorando e foi falar com
ele, mesmo sem conhecer. E quando ele saiu de perto dela, parecendo brabo pela
aproximação, ela só me olhou, levantou os ombros e apertou o canto da boca,
como quem diz ‘Eu tentei’. As ações da Helena me fizeram mais observadora e preocupada,
e ela com certeza, com a sua intensidade, me mudou completamente.
Coloquei minha mão sobre a perna dela e pedi que ela
me desse a mão. Parei na sinaleira, olhei pra ela.
- Eu vou morrer
de saudade tua!
- Eu também.
Respirei fundo com os olhos cheios d’água e apertei o
acelerador. A partir de agora precisarei apertar o acelerador muitas e muitas
vezes.
Momentos que são teus e tu não abre mão!
ResponderExcluirTe amo minha enteadinha maravilhosa!!!
ResponderExcluir