22 de julho de 2011

Eu acostumei mal

Comecei a escrever esse texto semana passada. Perdi o foco, parei na metade, e não postei no blog. Deixei em banho-maria. Mas essa semana, depois de ver a matéria da jornalista Eliane Brum para a Revista Época, “Meu filho, você não merece nada” meu texto fez todo sentido. Eu sinto exatamente o que está descrito na matéria. Sou da geração que teve tudo nas mãos e que sente-se ligeiramente injustiçada por ter, em certas ocasiões, confiscado o seu direito de ser feliz. Como se a felicidade estivesse incluída em um pacote e pudesse ser escolhida pelos nossos pais, assim como nosso nome.

Sinto, muitas vezes, que faço parte de um mundo diferente. Que mundo é esse em que as pessoas insistem em passar umas por cima das outras para alcançarem seus objetivos? Minha mãe não me criou para isso. Aí que tá.

Eu acostumei mal.

Acostumei a contar com a disponibilidade das pessoas para mim. E ensinei a contarem com a minha também. Daí cheguei num mundo onde só eu fazia a minha parte. E deu pane no sistema.

Chegava em casa sentindo-me injustiçada pelas pessoas, como se cada um que cruzasse meu caminho na rua tivesse que ter por mim, o carinho que meus amigos tem. Que bom que hoje li esse texto e entendi o que acontece comigo. Faço parte de uma geração que aprendeu errado.

Mesmo quem não tem as coisas de mão beijada hoje em dia não se esforça para conseguir o que quer. Aliás, esforço é uma palavra que, aos poucos, vejo saindo do vocabulário. Ninguém quer se esforçar. Ninguém quer se aborrecer. Ninguém quer dar o melhor de si e chegar em casa sem pique pra mais nada. As pessoas escolhem fazer as coisas de outro jeito, que não é o melhor, mas é tão mais simples.

Os pais da minha geração lutaram para dar aos filhos o que não tiveram. Mas esqueceram de dizer “não”. Esqueceram de mandar que nos virássemos sozinhos; esqueceram de dizer que não estariam sempre aqui pra nos ajudar; esqueceram de dizer que o mundo não é a nossa casa onde achamos que conhecemos as pessoas; esqueceram de dizer que às vezes é preciso engolir o choro e esquecer o orgulho; que errar não é sinônimo de fracasso e que a vida é nossa, as escolhas também devem ser. Somos nós que, para o resto da vida, vamos ter que conviver com o tipo de ser humano que nos tornarmos.

Eu acostumei mal, mas aprendi certo. E venho aprendendo constantemente. Ser forte é uma prática que pode sim ser adquirida com o tempo. E felicidade não é um direito escrito em folha de papel timbrado e reconhecido em cartório como nosso. Ela deve ser cuidada e adquirida por nós mesmos, de preferência, diariamente.

Agora é só eu ficar lendo esse texto até entender toda essa complexidade de verdade.



Por Manoela Soares (@manunsoares)

Um comentário:

  1. realmente gordinha, muito complexo isso tudo..

    e acho que talvez seja por isso que é tão difícil 'crescer'.. de qualquer forma, é melhor aprendermos dessa forma dolorosa do que nunca aprendermos..

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