14 de junho de 2011

O tempo das coisas

Por que acreditamos que existem coisas para sempre? Nada é pra sempre. Nem o amor nem a dor. Ninguém ama o tempo todo. Ninguém sofre o tempo todo. Ninguém é feliz ou triste, ou bonito ou feio, ou gordo ou magro o tempo todo. Às vezes somos. Às vezes não. Gostamos de acreditar que vai durar para sempre nossa amizade, nossa felicidade, nosso amor. Mas a verdade é que, na maioria das vezes, as coisas duram mais tempo que nós.

Depois que uma pessoa vai embora, ela ainda está no porta retrato. Abraçada com a gente. Como pode isso? Como pode a foto durar mais tempo que esse amor, que essa felicidade, que esse eterno nosso. Como pode a gente ainda sentir aqueles braços nos entrelaçando naquele abraço que nunca mais será nosso?

Quando uma pessoa vai embora a flor que ela plantou segue crescendo. Como pode? Como pode estar ali depois de tudo? Como vou olhar todos os dias para aquele jardim sem me lembrar das mãos sujas de terra daquela que mais gostava de enfeitar a casa com flores? Pior; como eu nunca mais vou ver aquelas mãos?

Quando uma pessoa vai embora ela segue no vídeo, brincando, rindo, com aquela roupa, aquela mesma que ainda está no armário. Que resistiu mais a vida do que quem a usava. Qual o sentido disso? Qual o sentido de seguir convivendo com um monte de lembranças e cheiros e gostos e sensações que nunca mais voltam?

Por que as coisas, que eram das pessoas que já foram, não vão embora sozinhas, sem que a gente precise reviver a saudade de mexer no que já não tem mais vida?

Depois que uma pessoa vai embora outro dia amanhece, apesar da dor. O sol aparece muitas vezes, e ele segue aquecendo o mesmo chão que quem já não está mais aqui pisava ainda ontem. Mas como é isso?

Por que, e como as coisas podem durar mais que as pessoas?




Por Manoela Soares (@manunsoares)

4 comentários:

  1. Que texto bonito.
    já estava mais do que na hora de atualizar

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  2. Coisas e pessoas, pessoas e coisas... A lembrança e a saudade é o mais me dói.

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  3. sempre pensei sobre isso, mas hoje posso dizer que tenho certeza que, pra mim, a dor da saudade é a dor que mais dói, é uma coisa física, difícil de explicar..

    e muitas vezes já me revoltei com essa história das coisas durarem mais que as pessoas, de tudo continuar acontecendo como sempre depois que as pessoas se vão.. como pode continuar passando o jornal nacional, a novela, como pode continuar fazendo sol ou chovendo se a pessoa que a gente ama não está mais com a gente?

    pois bem, acho que vou continuar me revoltando com isso por muito tempo já que me parece que é uma coisa que nunca vai mudar mesmo..

    e repito, minha gorda, não tenho palavras pra descrever a maravilha que é esse teu dom de colocar perfeitamente em palavras o que nós, meros pensadores, só conseguimos colocar em pensamentos..

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